terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Difícil Arte de Dizer NÃO!


A difícil arte de dizer NÃO! Até agora foi o post que mais me deu trabalho para escrever... Primeiro, porque é um assunto que tem muito a ver com a minha história em particular, mas também, porque até mesmo antes de começar o texto, o tal assunto me consumiu algumas boas horas de reflexão.

Fiquei me perguntando quais os motivos que levam as pessoas a terem tanta dificuldade de dizer não. O questionamento que tomou conta dos meus pensamentos foi:

O que faz uma pessoa passar por cima da sua própria vontade para fazer o que o outro quer e não o que ela quer?

Será o medo de decepcionar o outro ao dizer não? Ou dificuldade de enfrentamento? Insegurança? Medo da reação do outro diante da negativa? Necessidade de agradar?

Talvez nada disso, mas talvez tudo isso!

O que acontece é que as pessoas que têm dificuldade de dizer não, geralmente são assim há muito tempo e depois de anos vivendo dessa maneira, mudar a forma de agir é muito difícil. Seu jeito de encarar as situações vira quase que uma característica de personalidade, um padrão de comportamento.

Tenho quase certeza que você já ouviu ou até mesmo já disse esta frase: "Vou pedir algo para o fulano, porque ele não sabe dizer não!" Ou seja, a dificuldade vira um rótulo.

Quem é rotulado dessa maneira, comumente, sente cada pedido recebido (a que não consegue negar) como um abuso, uma agressão de quem pede, porém este tamanho desconforto é guardado pra si, contido, simplesmente por não ser capaz de dizer NÃO.

Para aqueles que sofrem deste bloqueio, no meu ponto de vista a agressão não é só do outro em relação a você, mas de você consigo mesmo. 

Alguém só extrapola o limite da sua aceitação, se você permite. Ninguém atravessa um espaço que não esteja aberto, vulnerável. As pessoas acostumam-se a te “usar”, porque é permitido e quem permite é você.

Quantas vezes a pessoa que tem dificuldade de negar um pedido, acaba fazendo o que o pedem a duras penas e muitas vezes, prejudicando-se: 
  • é o dinheiro que estava guardado e destinado a algum fim que você empresta, 
  • é o dia que você está atrasado, mas cede em dar uma carona para levar alguém do outro lado da cidade e fora do seu caminho, 
  • é o pedido do chefe para ficar até mais tarde e você não consegue negar mesmo sendo dia do aniversário de um familiar seu em que todos estão te esperando para a festa, etc.
Estes são exemplos clássicos.


Normalmente, quem faz o pedido exerce um poder sobre você e não necessariamente um poder real, como no caso de um chefe numa pirâmide de hierarquia. Até mesmo porque, tem pessoas que têm dificuldade de dizer não a crianças, a estranhos, a amigos, enfim, a todos.

O que fazer para quebrar com este comportamento e dar fim a este sentimento de impotência e de anulação?

Afirmo que é preciso passar por um ritual de transição. O que é isto? É uma forma de formalizar concretamente a mudança de atitude.

Para ilustrar o que chamei de ritual de transição vou usar uma cena do filme: “O Diabo Veste Prada". Infelizmente, é uma cena de final do longa, portanto, desculpem-me aqueles que ainda não assistiram.

Para mim, este trecho do filme tem uma simbolização clara do que é um ritual de transição, pois mostra uma importante quebra do padrão de comportamento de aceitação que a secretária  Andrea (Anne Hathaway) tinha em relação a sua chefe Miranda Priestly (Meryl Streep) e sinaliza o fim dos abusos impostos pela última.

Narrando a cena: Depois de Andrea aceitar e realizar inúmeros pedidos absurdos no decorrer da história, de receber constantes agressões verbais e ligações de sua chefe nas horas mais impróprias, a secretária, ao ouvir o característico toque do seu celular com mais uma chamada de Miranda, olha para o aparelho e o arremessa em uma fonte, ato que simboliza o fim da relação entre as duas (veja a sequência de cenas na figura abaixo).


Reforço que esta é só uma ilustração, não quero dizer que você precise fazer algo do gênero para então mudar, mas de alguma forma, a quebra do comportamento de aceitação precisa acontecer.

Mas vamos lá, como então fazer isto?

Dizendo o primeiro NÃO! Mas quando falo do primeiro NÃO, é aquele realmente difícil de dizer, aquele que em outras circunstâncias você cederia.

Vai ser fácil? Garanto que não. De início, você provavelmente vai hesitar e pensar em inventar uma desculpa qualquer. É preciso ter coragem para seguir em frente.

É natural, uma vez que você se decida a dizer não, que seu corpo dê sinais de ansiedade, você provavelmente vai suar, vai sentir seu coração acelerar, terá medo de como a pessoa reagirá, ficará com receio de não conseguir sustentar sua postura, de voltar atrás se insistirem no pedido, temerá que as pessoas se afastem de você e pode ter medo de não ser mais amado, mas seja firme. Enfrentar esta primeira situação é quase que uma indicação terapêutica!

À medida que você for se sentindo mais seguro com a sua nova postura, estes sintomas começam a desaparecer ou pelo menos, diminuem bastante de intensidade.

E uma vez que você comece a viver esta mudança, encontrar o ponto de equilíbrio é essencial.

É muito provável que você goste bastante desse seu novo eu, sinta-se poderoso(a) como protagonista da sua própria história, dono(a) de suas vontades, mas evite os extremos. Você não precisa ser totalmente permissivo(a), nem muito menos resistente ou rígido demais, ou seja, nem oito, nem oitenta.

Balancear as suas atitudes e discriminar quando vale a pena ceder é primordial, ou seja, permita conhecer até que ponto você pode atender a um pedido e sentir-se bem e respeitado e quando a situação extrapola seus limites e é preciso usar o freio. Será um exercício de autoconhecimento e experimentação, com o tempo saberá achar a dose correta que fará bem a você e a quem convive contigo.

E se por algum acaso, no meio deste caminho, você se deparar com alguém que brigue ou se distancie de você por causa do seu NÃO, simplesmente agradeça, para o seu bem, foi melhor assim!

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