quarta-feira, 2 de outubro de 2013

É Uma Pena, Mas Você Não Vale a Pena



Estou quase certa de que no momento em que leram o título do post de hoje, o “VOCÊ” da frase acabou te fazendo pensar em alguma pessoa.

É até bastante natural que isto aconteça, até mesmo porque, este era o objetivo da cantora Maria Rita ao interpretar a música “Não Vale a Pena”, em que exclama a plenos pulmões a frase título deste post (se nunca ouviu a melodia, eu indico escutá-la).

Porém, quando pensei em escrever sobre este assunto, não pensei somente no VOCÊ como alguém. Quando digo “É uma pena, mas VOCÊ não vale a pena”, este você pode ser qualquer vínculo ou relação estabelecida, seja com pessoas, com coisas, com uma instituição e até mesmo com comportamentos.


Esclarecido este importante aspecto, vamos em frente.

Para falar deste tema, é fundamental que fique claro que até chegarmos à conclusão de que algo não vale a pena, acontece um processo anterior e deve haver um processo posterior. O que quero dizer com isto? 

O esquema abaixo vai clarificar esta ideia e falarei de cada etapa descrita.


1. Mergulho

O mergulho é bom... é quando vivemos aquela sensação de estarmos tão misturados e submersos que nós e a "água" somos uma coisa só.

Nesta etapa, o vínculo ainda é vivido de maneira saudável, o relacionamento não sufoca, não entristece, nem causa problemas, o trabalho te realiza, te traz satisfação e te motiva, aquela forma de agir é aceita, te traz ganhos, aquela amizade é positiva, te acrescenta, te faz feliz, aquela escolha ainda é a mais acertada, te traz contentamento, aquela atitude é inicialmente bem vista, te abre portas e assim por diante.

É difícil estabelecermos vínculos, mantermos comportamentos ou nos apegarmos a algo que já de início nos faz mal ou não nos traz benefícios (apesar de acontecer), normalmente mergulhamos em relacionamentos e investimos em atitudes que, pelo menos inicialmente, trazem algum ganho: emocional, financeiro, profissional, etc.

Como disse acima, às vezes, já mergulhamos em algo ruim desde o princípio, ou seja, mesmo sabendo que o negócio tem pouca probabilidade de dar certo, tentamos e insistimos... nestes casos, o afogamento é quase inevitável.

E mesmo nas circunstâncias em que tudo começa bem, ele também pode acontecer.

2. Afogamento

É aí que o mal estar se instala! O que antes era saudável, suportável e até mesmo agradável, torna-se um problema, desconforto e incômodo.

Não é possível acordar, nem ir dormir um só dia sem que a sensação ruim te acompanhe. Ninguém consegue esquecer que está se afogando e apesar disto ser uma metáfora, deixar de lado um pensamento de que está vivendo com algo ou com alguém que não te faz bem e se desvencilhar desta circunstância é tão difícil quanto sair de uma situação de afogamento.

Você pode negar (para os outros e para si mesmo), você pode mascarar a situação, você pode achar que é uma fase que vai passar e que vai voltar a respirar normalmente de novo, mas na maioria das vezes, você nada, nada, nada e não consegue chegar à superfície.

Há quem vá direto dessa etapa para a fase do despertar, mas por outro lado, há outros casos em que ainda é preciso chegar a uma situação limite, em que se perdem as forças, a capacidade ou a coragem de encarar o problema, há o sentimento de paralisia, seguido do "desmaio".

3. Desmaio

É claro que este desmaio é no sentido figurado. Refiro-me ao desmaio como sinônimo de um estado de inércia, sensação de impotência, em que a situação ou o contexto exerce domínio sobre si e te paralisa, impedindo-o de agir.

Fica ainda mais grave, quando chega ao estágio de anulação e perda da identidade, ou seja, a pessoa já não se reconhece mais.

Como assim?

É mais ou menos quando você pensa da seguinte maneira: em situações normais, ou se eu estivesse bem, jamais permaneceria nesta situação, agiria desta maneira ou aceitaria tais circunstâncias.

Vamos exemplificar: imagine uma pessoa que começou a trabalhar em um lugar onde inicialmente tudo corria muito bem, porém certo dia sofre uma situação de humilhação e desencorajamento em uma de suas realizações. Então, como é a primeira vez que isto acontece, é uma situação isolada. O fato te magoa, te desmotiva, te incomoda, mas como foi apenas um evento, passa. Porém, acontece de novo, o sentimento ruim volta, a indignação aumenta, a vontade de jogar tudo para o alto aparece, mas a coragem e o enfrentamento não as acompanham, portanto fica autorizado que o processo se repita inúmeras vezes, pois não há reação contrária ao abuso. Chega certo ponto, que o estado de anestesia desta pessoa é tamanho que viver nesta situação vira um sofrimento rotineiro e parece que ser agredida faz parte do que ela se tornou. Porém, esta pessoa ao se lembrar de como era antes disto tudo acontecer, não consegue entender como deixou que as coisas chegassem a este nível e parece não saber o que fazer para sair desta.

Esta é apenas uma situação hipotética e pode ser substituída por qualquer outra que lhe remeta ao mesmo desconforto.

Feliz o dia em que o estado de coma emocional cessa e a vontade de libertar-se de tudo que te faz mal surge: é o que chamo de despertar.

4. Despertar

Também podendo ser definido como o processo de tomada de consciência, em outras palavras, é literalmente entrar em contato com o problema e assumir para si mesmo que algo não está indo bem. Nesta etapa, fica muito claro a nossa frase tema de que “é uma pena, mas você não vale a pena”. Seja lá o que seja este VOCÊ.

Saber é suficiente para mudar? Não. Algumas pessoas vivem anos ou até mesmo a vida toda com a consciência de que algo não é bom, que não as fazem feliz, mas não há atitude para sair da situação. Vivem “desmaiadas” até o fim.

Mas ao mesmo tempo, para aqueles que querem a mudança, o saber é o primeiro passo para a próxima etapa.

5. Resgate

Este processo pode acontecer com ou sem ajuda. Tem pessoas que conseguem encontrar uma energia interior tão poderosa que ela sozinha é capaz e suficiente para enfrentar o que quer que seja que não vale mais a pena.

Outras pessoas precisam de apoio emocional, profissional, espiritual ou de todos estes juntos para se encorajarem a iniciar a mudança.

É nesta etapa que se coloca um basta num relacionamento infeliz, que se afasta de uma amizade destrutiva, que se pede demissão de um emprego ruim, que se para de repetir comportamentos inadequados, que se reflete escolhas e faz elas deixarem de serem definitivas, que se afasta de pessoas que fazem mal, que se para de fazer coisas que causam infelicidade.

Então, se neste estágio coloca-se um basta no problema, por que chamá-lo de resgate?

Porque é nesta etapa que acontece o resgate de si mesmo, o reencontro pessoal com o que era antes de mergulhar, afogar, desmaiar e despertar.

Será possível passar desta fase sem marcas? Dificilmente não, mas isto não significa que elas sejam ruins, é capaz até que elas sirvam de lição para quaisquer outras situações que viver, mas elas não podem ser profundas o suficiente para te impedir de ser feliz em outro capítulo da sua história.

Por isso, alguns encerram o processo aqui, mas outros ainda precisam passar pela última fase, o perdão.

6. Perdão

Aceite que você é passível de erros e acertos, de boas e más escolhas, de fazer coisas positivas e negativas e que na maioria das vezes, o maior prejudicado em todas estas situações é você mesmo.

E talvez, há uma tentativa destrutiva de atribuir-se a culpa e se martirizar pelo tempo que viveu neste estado. Porém, isto é tão improdutivo quanto tentar voltar ao passado.

Não é a toa que a figura que escolhi para este post é a de correntes que se transformam em pássaros voando em liberdade. Porque ao falar deste processo em etapas, ao chegar até aqui, qualquer situação de aprisionamento e paralisia ficou para trás e para o que virá, o céu é o limite, portanto, perdoe-se e vire a página.

Enfim, nessa caminhada, o máximo que pode acontecer é novamente chegar-se à conclusão de que “é uma pena, mas você não vale a pena” e então, tenha coragem para começar tudo de novo, é assim que a vida segue!

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