A difícil arte de dizer NÃO! Até agora foi o post que mais me deu trabalho para escrever... Primeiro, porque é um assunto que tem muito a ver com a minha história em particular, mas também, porque até mesmo antes de começar o texto, o tal assunto me consumiu algumas boas horas de reflexão.
Fiquei me perguntando quais os motivos que levam as pessoas a terem tanta
dificuldade de dizer não. O questionamento que tomou conta dos meus pensamentos foi:
O que faz uma pessoa passar por cima da sua própria vontade para fazer o que o outro quer e não o
que ela quer?
Será o medo de decepcionar o
outro ao dizer não? Ou dificuldade de enfrentamento? Insegurança? Medo da
reação do outro diante da negativa? Necessidade de agradar?
Talvez nada disso, mas talvez tudo
isso!
O que acontece é que as pessoas
que têm dificuldade de dizer não, geralmente são assim há muito tempo e depois de anos vivendo dessa maneira, mudar a forma de agir é muito difícil. Seu jeito de encarar as situações vira quase que uma característica de personalidade, um padrão de comportamento.
Tenho quase certeza que você já
ouviu ou até mesmo já disse esta frase: "Vou pedir algo para o fulano, porque ele
não sabe dizer não!" Ou seja, a dificuldade vira um rótulo.
Quem é rotulado dessa maneira, comumente, sente cada pedido recebido (a que não consegue negar) como um abuso,
uma agressão de quem pede, porém este tamanho desconforto é guardado pra si, contido, simplesmente
por não ser capaz de dizer NÃO.
Para aqueles que sofrem deste
bloqueio, no meu ponto de vista a agressão não é só do outro
em relação a você, mas de você consigo mesmo.
Alguém só extrapola o limite da
sua aceitação, se você permite. Ninguém atravessa um espaço que não esteja
aberto, vulnerável. As pessoas acostumam-se a te “usar”, porque é permitido e quem permite é você.
Quantas vezes a pessoa que tem
dificuldade de negar um pedido, acaba fazendo o que o pedem a duras penas e muitas
vezes, prejudicando-se:
- é o dinheiro que estava guardado e destinado a algum fim que você empresta,
- é o dia que você está atrasado, mas cede em dar uma carona para levar alguém do outro lado da cidade e fora do seu caminho,
- é o pedido do chefe para ficar até mais tarde e você não consegue negar mesmo sendo dia do aniversário de um familiar seu em que todos estão te esperando para a festa, etc.
Normalmente, quem faz o pedido exerce um poder sobre você e não necessariamente um poder real, como no caso de um
chefe numa pirâmide de hierarquia. Até mesmo porque, tem pessoas que têm dificuldade de dizer não
a crianças, a estranhos, a amigos, enfim, a todos.
O que fazer para quebrar com este
comportamento e dar fim a este sentimento de impotência e de anulação?
Afirmo que é preciso passar por um
ritual de transição. O que é isto? É uma forma de formalizar concretamente a
mudança de atitude.
Para ilustrar o que chamei de
ritual de transição vou usar uma cena do filme: “O Diabo Veste Prada". Infelizmente, é uma cena de final do longa, portanto, desculpem-me aqueles que ainda não assistiram.
Para mim, este trecho do filme tem uma simbolização
clara do que é um ritual de transição, pois mostra uma importante quebra do padrão de comportamento de aceitação que a secretária Andrea (Anne Hathaway) tinha em relação a sua chefe Miranda Priestly (Meryl Streep) e sinaliza o fim dos abusos impostos pela última.
Narrando a cena: Depois de Andrea aceitar e realizar inúmeros pedidos
absurdos no decorrer da história, de receber constantes agressões verbais e ligações de sua chefe nas
horas mais impróprias, a secretária, ao ouvir o característico toque do seu celular
com mais uma chamada de Miranda, olha para o aparelho e o arremessa em uma fonte,
ato que simboliza o fim da relação entre as duas (veja a sequência de cenas na figura abaixo).
Reforço que esta é só uma ilustração, não
quero dizer que você precise fazer algo do gênero para então mudar, mas de alguma forma, a quebra do comportamento de aceitação precisa acontecer.
Mas vamos lá, como então fazer isto?
Dizendo o primeiro NÃO! Mas quando falo do primeiro NÃO, é aquele realmente difícil de dizer, aquele que em outras circunstâncias
você cederia.
Vai ser fácil? Garanto que não. De início, você provavelmente vai hesitar e pensar em inventar uma desculpa
qualquer. É preciso ter coragem para seguir em frente.
É natural, uma vez que você se decida a dizer não, que seu corpo dê sinais de
ansiedade, você provavelmente vai suar, vai sentir seu coração acelerar, terá medo de como a pessoa reagirá, ficará com receio de não conseguir
sustentar sua postura, de voltar atrás se insistirem no pedido, temerá que as pessoas se afastem de
você e pode ter medo de não ser mais amado, mas seja firme. Enfrentar esta primeira situação
é quase que uma indicação terapêutica!
À medida que você for se sentindo
mais seguro com a sua nova postura, estes sintomas começam a desaparecer ou pelo
menos, diminuem bastante de intensidade.
E uma vez que você comece a
viver esta mudança, encontrar o ponto de equilíbrio é essencial.
É muito provável que você goste
bastante desse seu novo eu, sinta-se poderoso(a) como protagonista da sua própria
história, dono(a) de suas vontades, mas evite os extremos. Você não precisa ser
totalmente permissivo(a), nem muito menos resistente ou rígido demais, ou seja,
nem oito, nem oitenta.
Balancear as suas atitudes e
discriminar quando vale a pena ceder é primordial, ou seja, permita conhecer até que ponto você
pode atender a um pedido e sentir-se bem e respeitado e quando a situação
extrapola seus limites e é preciso usar o freio. Será um exercício de autoconhecimento
e experimentação, com o tempo saberá achar a dose correta que fará bem a você e
a quem convive contigo.
E se por algum acaso, no meio
deste caminho, você se deparar com alguém que brigue ou se distancie de você por causa do seu NÃO, simplesmente agradeça, para o seu bem, foi
melhor assim!
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