É bem curioso e fascinante como
cada pessoa é capaz de viver a mesma experiência de maneira totalmente
diferente. O que um tira de letra, o outro sofre, o que faz um sorrir, faz o
outro chorar, o que fortalece um, enfraquece o outro, o que irrita um, é
indiferente para o outro... E é justamente isto que nos faz únicos e bastante
singulares.
A experiência de emprego e
desemprego também é bem particular e este foi o primeiro motivo que pensei um
bocado antes de falar sobre este tema, pois não há nada de universal nem
unânime no que vou escrever.
Cheguei à conclusão que os pontos
que menciono são totalmente baseados na minha experiência, no meu ponto de
vista e na minha maneira de sentir as coisas, mas mesmo assim, nada me impede
de compartilhar com vocês as 7 coisas que aprendi com (e sem) o trabalho.
Aprendi que...
1. Trabalhar é um dos caminhos para a felicidade
Durante a
faculdade de Psicologia, ouvi diversas vezes a frase: “O trabalho dignifica o homem.” Naquela época e durante todos os
meus anos de trabalho, essa frase me intrigou: entendia o seu significado,
refletia sobre o valor que dava aos meus empregos e estava certa de que gostava
muito de trabalhar, mas só fui entender o verdadeiro significado desta frase
agora que o trabalho me falta.
Por que isto
aconteceu? Além de um inegável aspecto pessoal, há também um forte aspecto
cultural. Normalmente, ao conhecer alguém, logo depois de perguntarem seu nome,
questionam “o que você faz?” ou “com que ou aonde você trabalha?”.
Acreditem, não
ter resposta a estas perguntas geram sentimentos ruins. Os sentimentos de
angustia, preocupação e até mesmo vergonha, costumam acompanhar o desemprego.
Sem contar a sensação de insegurança diante do mercado de trabalho, de estar
desaprendendo e “emburrecendo” à medida que o tempo passa.
Isto passa?
Espero e acredito que sim!
Enfim, para mim,
trabalho é aquilo que você considera trabalho, mesmo que para você trabalho
seja ser dona de casa, esposa, mãe, pai ou marido em tempo integral.
No meu caso
especificamente, trabalho ainda é aquele vínculo que pressupõe uma carteira de
trabalho assinada, o investimento de várias horas do seu dia, a sensação de
missão cumprida ao final de uma jornada e a certeza de que no dia seguinte tem muito
mais! E isto faz falta, como faz.
2. Odiar a segunda-feira e amar a sexta só faz sentido para quem trabalha
Prestem
atenção nas manifestações nas redes sociais às segundas e sextas-feiras. No primeiro
dia útil da semana, inúmeras mensagens e imagens de caras feias, bocejos, preguiça
e mau-humor estampam suas notícias. Isto quando as demonstrações não se iniciam
no domingo, durante a famosa “Síndrome do
Fantástico”. A simples aproximação da segunda-feira já é motivo para causar
desânimo e indisposição.
Na sexta-feira
pelo contrário, o dia parece amanhecer mais feliz. Figuras de sorrisos, amigos,
praias, “biritas” e baladas alegram o último dia útil da semana. Na sexta, até
o visual das pessoas é mais despojado, as roupas são menos sérias e mais coloridas
e a contagem regressiva para o fim do dia é inevitável.
Virar o
domingo para segunda e a quinta para a sexta sem estas sensações é bastante frustrante,
porque elas só existem quando você trabalha.
Sentir-se mal na segunda é o ônus do trabalho e viver feliz na sexta é o seu bônus.
Portanto, se
domingo às 22 horas você já está emburrado(a) e sente embrulhos no estomago só
de pensar na segunda, alegre-se, pois logo cedo, no dia seguinte, você tem para
onde ir!
3. É impossível trabalhar em um ambiente hostil
Sabe quando você
chega para trabalhar e tem dúvidas se errou o caminho e foi parar na Faixa de
Gaza? Então, isto é o que eu chamo de ambiente hostil.
Brincadeiras à
parte e traduzindo para o português bem claro, falo daquela energia pesada,
onde uma nuvem negra parece pairar logo acima, onde os ânimos estão sempre exaltados,
os rostos são fechados e tensos, qualquer falha ou problema é motivo para quase
iniciar a terceira guerra mundial, há sempre alguém tentando puxar o tapete de
outro, as reuniões são verdadeiros massacres, as pessoas tratam-se de maneira
agressiva e por aí vai. Por incrível que possa parecer, isto tudo de ruim ainda
pode acontecer junto.
Mas espera lá!
Você tem um cargo importante, um salário atrativo, benefícios de primeira e se
deixa incomodar por este clima? Absolutamente sim!
No meu ponto de
vista, é humanamente impossível, manter-se mentalmente saudável em um ambiente assim.
Por mais que o ser humano seja resiliente, persistente e pacificador, não
conseguirá sobreviver, muito menos mudar um contexto como este – a menos que
mergulhe e se suje de lama, o que eu altamente desencorajo a fazer.
Ambiente hostil
é sinônimo de rotatividade, pura e simples. Você pode aguentar por um tempo,
mas se manter é improvável, e para mim, impossível.
4. Ter um bom salário não é o fim em si, é uma consequência
Duvido que
alguém aqui tenha começado a sua carreira com o salário dos seus sonhos e ainda
continuo a duvidar que tenha alguém que seja absolutamente e totalmente
satisfeito com o que ganha hoje. Mas se houver, meus parabéns, você é uma exceção
feliz!
Para o trabalho,
todos nós temos um preço e o mínimo que você aceita para tal função tem que
existir. Nesta conta estão incluídos: todos os seus anos de estudo, as
habilidades e conhecimentos que adquiriu, as experiências que teve, o saldo dos
feedbacks que recebeu, todo processo
de amadurecimento da sua carreira e talvez, ainda estejam incluídas, todas as
suas despesas atuais e dívidas a serem contraídas.
Isto significa
que você será remunerado exatamente no número que fecha esta soma? Nem sempre.
E isto é um problema? Nem sempre.
Complicou, não
é? O que eu quero dizer com isto?
Se você
acreditar que o seu salário é composto dos 3 elementos que cito abaixo, não há
motivos para achar isto um problema. A equação é a seguinte:
ESFORÇO
+ MOTIVAÇÃO + RESULTADOS = SALÁRIO (ou RECONHECIMENTO)
Por isso que
falo que salário é uma consequência, ou seja, o resultado da união destes três
fatores. E se eles estiverem presentes, é quase certo que o reconhecimento virá,
normalmente temos que temperar esta equação com uma pitada de paciência e
determinação, mas acredite, virá!
5. No trabalho, é possível fazer amizades para a vida toda
Quantas verdades
absolutas ouvimos durante a nossa vida. Estes conselhos vinham acompanhados de:
valorize as boas companhias, cuidados com suas amizades, diga-me com quem andas
que te direi quem és, e assim por diante.
Quando começamos
a trabalhar, estamos por nossa conta e risco e as nossas escolhas, sejam de
atitudes ou de quem nos aproximamos, estão em nossas mãos.
E a grata
surpresa nesta experiência é que podemos encontrar no trabalho pessoas que
fazem uma diferença toda especial em nossa vida. Particularmente (se é que me
permitem), tenho no coração e presentes em minha vida amigos que “colecionei”
durante cada emprego que tive e sei que poderei contar com muitos deles até o
fim.
6. No trabalho, você se força a fazer coisas que não faz na
vida pessoal
Já me surpreendi
inúmeras vezes me desafiando a fazer coisas e a enfrentar barreiras na vida
profissional que relutei muito em fazer na vida pessoal.
Na nossa
carreira, ninguém quer saber se temos dificuldade de dizer não, de negociar, de
confrontar, de tratar com figuras de liderança, de falar em público, de dar um feedback difícil, não querem saber se
dominamos aquela tarefa ou se sabemos dar o devido encaminhamento àquele
assunto. O que acontece então? Simplesmente temos que ir lá e fazer e SIM, achamos os meios, os recursos e a
motivação para seguir adiante.
No particular,
achamos inúmeras desculpas, subterfúgios e razões para adiar ou simplesmente
não fazer. Temos esta escolha no trabalho? Normalmente não.
E por que agimos
assim? Por que, no trabalho, devemos satisfação a alguém e somos exigidos em
nossas atribuições? Ou por que temos um chefe rígido que não vai ceder diante
de nossas argumentações? Ou por que nos desafiamos a sermos melhores para o
futuro e progressão da nossa carreira?
Independente do
motivo pelo qual agimos assim, é sempre tempo de sermos o nosso próprio chefe, exigirmos
mais de nós mesmos e nos forçarmos a realizar mais, senão, corre-se o risco de alguém
querer desistir de você também na sua vida pessoal e infelizmente, esse alguém
pode ser você mesmo!
7. Trabalhar é bom, mas para ser feliz, precisa-se de algo
mais
Para finalizar,
trago a contrapartida do primeiro ponto desta história. Viver só de trabalho, é
sobrevida. Faça-se aquela pergunta: você trabalha para viver ou vive para
trabalhar?
Outra questão
importante: você tem alguém para quem voltar ao fim do dia? Ou então: você tem
algo para que voltar ao fim do dia?
O SIM a estas questões
é o que te encoraja a continuar, te faz acordar todos os dias, dá entusiasmo a
sua vida. As coisas perdem bastante o sentido se a resposta a estas questões
for NÃO.
Por incrível que
pareça, não trabalhamos só para nossa própria satisfação pessoal e material,
trabalhamos por algo mais, seja por alguém ou por alguma coisa, nem que seja a
realização de sonhos, mas simplesmente existir só para bater cartão e receber
ao fim do mês, é muito pouco para todo o potencial de vida que você tem.
***
Parece clichê, mas a vida é um
constante aprendizado e o fato é que: aprendemos demais durante as adversidades.
É provável que se eu não
estivesse neste momento de vida, teria pouco a contribuir com este post. Hoje,
certamente dou muito mais valor a tudo que já vivi e com certeza, saberei
reconhecer e honrar, ainda mais que antes, o que o futuro me reserva.
Mesmo tendo hesitado de início, acho
válido tudo que disse, porque além destas sete coisas, eu também aprendi que
não precisamos viver tudo, simplesmente porque podemos aprender com a
experiência dos outros.
Então, se você que já está
trabalhando e não vê muitos ganhos no seu trabalho, não espere ter que chegar a
próxima oportunidade para dar valor ao
que você já tem hoje. Pense nisto!